Os óculos
A gente sabe. A sociedade de consumo nos afoga em dívidas, é estúpida, imoral. Sim, ela inverte valores, acumula inutilidades, aprofunda diferenças, escamoteia outros desejos sublimados.
Compramos muito mais do que o necessário e depois tropeçamos em coisas inúteis e somos forçados a dedicar mais tempo e dinheiro para preservá-las.
Tenho consciência disso. Qualquer pessoa de bom senso com mais de 18 anos já deve ter chegado a esta conclusão.
Mas não resisto a uma boa pechincha ou a um belo par de óculos, de design. E foi assim, por comprar sem pensar, que acabei com um caríssimo óculos Prada esquecido na gaveta. Seu modelo, com lente curvada, não aceita meus muitos graus e minhas lentes multifocais.
Também – e talvez seja apenas mais uma desculpa deslavada pra justificar minhas gastanças -, sou movida pela crença de que os objetos acabam encontrando sua vocação.
Quantas coisas eu comprei sem saber por que e agora são úteis na casa de filhos, irmãos, sobrinhos, amigos?
Foi assim com os óculos inúteis pra mim. Depois de anos no limbo, eles encontraram sua missão na vida: embelezar e empoderar uma mulher simples e batalhadora, que de posse de seus óculos chiquérrimos, de madame, ganhou confiança e autoestima.
Nunca pensei que um objeto supérfluo pudesse fazer tanto bem a alguém, iluminando e dando novo sentido à vida.
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