Mãos
As águas subiram em velocidade assustadora. E de repente, zonas inteiras foram inundadas deixando milhares de pessoas náufragas em suas casas. Asilos, hospitais, delegacias, escolas, mercados, rodovias, pontes, avenidas: tudo debaixo d’água.
Verdade que antes veio o furacão, trazendo quantidades inimagináveis de chuva. Mas também é fato que áreas destinadas a absorver as águas foram ocupadas indevidamente por empreendimentos imobiliários. E que o aquecimento global, intensificado pela ganância de um capitalismo cego, gera fenômenos climáticos cada vez mais dramáticos.
Sim, os homens têm culpa neste cartório. Eles e suas máquinas, eles e sua sede de dinheiro, eles e suas justificativas. O prefeito demorou para ordenar a evacuação das áreas mais vulneráveis e quando as águas chegaram à cintura, já era tarde para fugir.
O drama vivido por Huston, Texas, é transmitido ao vivo. Impressionam a calma dos atingidos pelo desastre, a solidariedade de vizinhos, parentes e estranhos, que arriscam a própria vida para ajudar os demais.
Água pela cintura, o homem branco carrega no colo a mulher de origem asiática e seu bebê. Homem negro retira da casa inundada no subúrbio rico duas crianças loiras, agarradas aos seus braços fortes. Rapazes brancos se unem no esforço de transportar o homem negro em sua cadeira de rodas.
Quase todos levam seus bichos de estimação, deixando para trás tudo o que construíram em uma vida inteira de trabalho árduo. Saem com a roupa do corpo, saem abraçados aos filhos, pais idosos, cachorros. Saem amparados por estranhos, mãos estendidas em meio à correnteza traiçoeira, em direção aos barcos que patrulham as ruas em busca de mais vítimas.
Gente organizada, já têm cobertores, agasalhos, comida e voluntários de sobra para confortar os que perderam tudo. As cenas de anônimos salvando estranhos emocionam. E fazem pensar que nem tudo está perdido. Há muitas mãos estendidas para ajudar. Mãos de todas as cores, de todas as raças, provando o quanto estão equivocados os racistas e os que defendem o desenvolvimento a qualquer custo.
Foto: Reuters
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