De homens e ratos
Ele apareceu de repente. Demoramos a reconhecer sua presença, mas assim que a detectamos, tomamos medidas imediatas. São três dias e noites e o placar até agora é três a zero pra ele.
Ratoeira, chumbinho, adesivo colante, vassouradas, buscas, móveis arrastados, utensílios removidos e o danado continua lá, visto de relance, aos saltos, entre a prateleira, o fogão, a máquina de lavar.
O ratinho danado come o veneno e reaparece, vivo! Nos enche de horror e nojo, igualzinho aos outros ratos, as ratazanas da velha política que assombram nossos dias, se multiplicam nos noticiários e nos embrulham o estômago, nos fazem rir de nervoso, do absurdo de tudo: da cara de pau, da enormidade dos números envolvidos na propina.
Moro neste endereço há vinte anos e esta é a primeira vez que um rato entra em casa. Imagino que eles estejam se multiplicando em quantidades alarmantes pelos bueiros e esgotos da cidade e que os gatos de telhado, cada vez mais escassos, não estejam dando conta do recado.
Penso também que, morando no mesmo bairro chique do nosso malfadado “presidente”, talvez o rato esteja perdido, buscando sua família no endereço errado.
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